Por cima da cabeça de caracóis pretos, o sol bate por entre as folhas da videira e projecta um naperon de sombras no chão de cimento quente. Os pés estão descalços à espera que a água percorra todas as curvas e contra-curvas da mangueira do quintal para lavar a terra escura.
O cheiro da borracha quente da mangueira mistura-se com o das flores do quintal e com o dos pêssegos amarelos pendurados na árvore torta. Mas todos estes cheiros juntos não ganham nunca ao cheiro da serra, que cerca o vale e se impõe em todas as frentes.
Corre uma brisa muito leve – tão leve que quase não se sente. Passa apenas de raspão na nuca para anunciar o fim de tarde. Daí a nada a avó há-de aparecer na ombreira da porta e há-de aproveitar a água de lavar as couves da sopa para regar as hortenses. Enquanto isso, há-de perguntar se não será melhor entrar para tomar banho e depois jantar.
Gosto de regressar ao sítio da minha infância. Mais do que isso: preciso de lá regressar de vez em quando para sentir saudades – mas daquelas que são feitas de cores e cheiros e texturas. Preciso de lá regressar para encontrar todos os que continuam por lá e todos aqueles que – encontrando lá – já não estão por cá.
Preciso de lá regressar para encontrar aquela miúda, feita da mesma matéria que eu, mas já tão diferente. Cada vez mais diferente.
Catarina, sigo o blog com alguma assiduidade, embora me limite sempre a ficar nas sombras. Mas desta vez não deu.
Os escasos segundos que demorei a “devorar” este post, tão curto e tão cheio de tudo, fizeram-me recuar vinte e muitos anos, à eira e ao quintal onde fui tão feliz, à figueira onde trepava mal a avó virava costas, aos morangos, tomates e rabanetes comidos mal os arrancava da terra, só passados pela agua que percorria a terra com destino às batatas que estavam a ser regadas.
Obrigada por, num dia tão cinzento como hoje, ter preenchido o meu início de tanta cor e perfume!
Catarina, sigo o blog com alguma assiduidade, embora me limite sempre a ficar nas sombras. Mas desta vez não deu.
Os escasos segundos que demorei a “devorar” este post, tão curto e tão cheio de tudo, fizeram-me recuar vinte e muitos anos, à eira e ao quintal onde fui tão feliz, à figueira onde trepava mal a avó virava costas, aos morangos, tomates e rabanetes comidos mal os arrancava da terra, só passados pela agua que percorria a terra com destino às batatas que estavam a ser regadas.
Obrigada por, num dia tão cinzento como hoje, ter preenchido o meu início de tarde com tanta cor e perfume!
Olá Marta,
Sabe uma coisa? Eu é que ganhei o dia com o seu comentário.
Obrigada pelas palavras e por me ler 🙂 E vivam as memórias de infância!
Um beijinho!
“Preciso de lá regressar para encontrar aquela miúda, feita da mesma matéria que eu, mas já tão diferente. Cada vez mais diferente.”
É tão bom absorver a força das suas palavras … simples, porém tão carregadas de memórias e sentimentos. Tudo aquilo que nos transporta para a nossa infância tem um pouco de nostalgia misturado com um renergizante natural para a alma. ?
É bem verdade, Paula!
Felizmente a minha infância foi recheada de episódios felizes – o que me dá um belo álbum de recordações 🙂
Um beijinho para si!